No Rio, muita gente "esquece" visita do papa ao Brasil

Apesar de atrair uma multidão de jovens católicos de todas as partes do mundo, a vinda do papa Francisco ao Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (22), para participar da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), que começa nesta terça-feira (23), tem sido tratada com indiferença muitos moradores da cidade. "Sou católica, mas não tô nem aí para a chegada do papa", afirmou a administradora Eiris Sousa, 32, que trabalha na Cinelândia, no centro, por onde o sumo pontífice passará com o papamóvel no fim da tarde desta segunda. "Só quero ver como vou chegar em casa", disse. Por conta da passagem do papa pela região, ela foi liberada mais cedo da empresa onde trabalha.
Como Eiris, há quem esteja preocupado menos em ver o líder da Igreja Católica e mais em fugir dos transtornos que sua visita à cidade causará, já que diversas vias serão bloqueadas nos próximos dias para garantir a movimentação do papa e de seus seguidores. "Se a gente têm que pegar engarrafamento todo dia, por que ele [o papa] não pode pegar também? Vou pedir carona no papamóvel para voltar pra casa", reclamou a diarista Lucimar Silva, 36, que mora no Caju, na zona norte, e trabalha em residências na zona sul, em Botafogo e em Copacabana.
Para Lucimar, que disse não ter religião, a jornada "só vai atrapalhar o trabalho". "Sou diarista, dependo do meu trabalho para ganhar dinheiro. Com esses eventos, não sei como vou conseguir sair e voltar pra casa e nem se vou poder trabalhar", disse. Católico, o porteiro Antônio Guilherme da Silva, 50, conta que não pretende nem sair do prédio onde trabalha e mora, em Botafogo, durante os seis dias da JMJ. "Vai ter muita gente na rua e eu não faço questão de ver o papa. E não quero encarar os engarrafamentos", afirmou Antônio.
O taxista Pedro Moreira, 62, conta que vai sair de casa para trabalhar nos dias da jornada sem expectativas de lucrar muito. "Vai ter mais gente na cidade, mas ao mesmo tempo vai ser mais difícil de se deslocar. No trânsito, é melhor fugir do papa", disse. Segundo Pedro, o trabalho também será atrapalhado pela diminuição das vagas de estacionamento nas ruas.
Enquanto esperava um ônibus para voltar do trabalho para casa, no início da tarde desta segunda, o administrador de empresas Cid Matos, 55, que é católico e diz frequentar a igreja, presenciou a chegada de milhares de jovens religiosos ao centro, mas nem cogitou se juntar a eles. "Minha preocupação é chegar em casa. Muitas ruas vão ser interditadas sem necessidade. A gente vai pegar um trânsito danado. Moro nas Laranjeiras, perto do palácio Guanabara [sede do governo estadual]. Fizeram tantos bloqueios que eu não sei nem se vão me deixar entrar na minha rua", declarou.
 Também católico, o funcionário público Dirceu Pinheiro, 60, foi à Cinelândia na tarde desta segunda, para participar de uma reunião.
"Se eu lembrasse que ele chegava hoje, teria marcado para outro dia. Quando eu peguei o jornal de manhã e vi, ainda tentei desmarcar, mas não consegui. Espero conseguir sair antes dele chegar", disse Dirceu, que mora em Niterói, na região metropolitana do Rio. "Mas eu sei que é impossível fazer um evento desse porte sem causar interferências na cidade", afirmou.
A técnica de edificações Adriana Lemos, 33, foi ao centro fazer o exame admissional do novo emprego nesta segunda e percebeu a movimentação para a chegada do papa. "Para mim, é indiferente. Espero que não interfira muito na minha vida", comentou. Evangélica, ela disse que não estava ciente do evento até esta segunda. "Eu até vi algumas pessoas passando com roupas e mochilas com o 'JMJ', mas pensava que era alguma coisa da Copa ou algo assim. Só fui saber hoje que era uma jornada católica."

Feriados

Para a assistente administrativa Pâmela Lemos, 24, que trabalha na Cinelândia e mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a jornada vai atrapalhar muito o dia a dia. "Deveria ser feriado a semana toda", pleiteou.
 No começo de junho, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro aprovou a realização de quatro feriados durante a Jornada Mundial da Juventude. Os dias 25 e 26 de julho, quando o papa participará da Missa da Acolhida e irá acompanhar a Via Sacra, ambas na praia de Copacabana, serão feriados integrais. Já os dias 23 e 29 de julho terão feriados parciais, a partir das 16h e até o meio-dia, respectivamente.
A medida não vai beneficiar o analista Felipe Pena, 33, que trabalha em uma multinacional na Cinelândia. A empresa não vai liberar os funcionários nenhum dia nesta semana. "Moro em Niterói e vou ter que enfrentar o movimento da jornada pra voltar pra casa", afirmou.

Gustavo Maia - Do UOL, no Rio
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